Saiba porque Pilsen é o estilo mais influente na história da cerveja e como surgiu.
Uma água incrivelmente suave, malte bem claro, lúpulos nobres e a baixa fermentação levaram à criação desse estilo leve, para todas as ocasiões e que, por sua adaptabilidade, caiu no gosto popular e ganhou o mundo, começando pelas nações da Europa.
Introdução
De modo geral, a pilsen é uma cerveja clara, amarelo-palha, beirando o dourado, com espuma opaca e branca.
Possui corpo leve, refrescante e lupulado. Seu aroma é rico e complexo, destacando o malte. Quanto ao amargor, é sutil, com um toque floral e condimentado dos lúpulos da região.
Alguns bons exemplares: sendo a Pilsner Urquel o carro-chefe.
História
Cervejas inconsistentes e insatisfação popular
Estamos na Boêmia, atual República Checa (Čechy em língua checa, Böhmen em alemão), onde, desde o séc. XIII se produzia cervejas do tipo ale (alta fermentação), que nem sempre mantinham consistência e por vezes geravam insatisfação dentre os consumidores.
Até que, em meados do séc. XVIII, com a Revolução Industrial, tudo começou a mudar. Nessa época os cervejeiros passaram a usar instrumentos como o termômetro e hidrômetro, favorecendo a consistência e qualidade de suas bebidas. Um deles foi Frantisek Ondrej Poupe, mestre cervejeiro que empregou esses instrumentos, o rigor científico e a padronização nos seus fabricos.
Some a isso os lúpulos nobres da região (como o Saaz ou o Zatec Red), a água bastante suave (baixo teor de sais), os maltes claros (das variedades Hanna e Kniefl e que usavam tecnologia inglesa na malteação) e, assim, o terreno estava pronto para o surgimento da Pilsen ... só que não...
Curiosidade: Por séculos, os duques da Bavária aplicaram a pena de morte a quem fosse pego contrabandeando rizomas de lúpulo para fora da região.
A Revolução Lager
Dos 4 elementos-chave, um ainda não possuía a devida qualidade: a levedura. Naquela época (por volta de 1840), a região da Boêmia tinha o conhecimento e matéria-prima apropriados, mas eles ainda usavam um mix de culturas de levedura ale para a fermentação, deixando os resultados ainda insatisfatórios.
Foi quando chegou uma nova técnica, vinda de Munique, e que trouxe a solução: a fermentação em baixas temperaturas. Dessa forma, os bávaros perceberam que a chave do sucesso estava na fermentação.
Aliado a isso, em 1842, um monge trouxe à região amostras de levedura lager e forneceu aos mestres cervejeiros esse último elemento que faltava para a produção da Pilsen.
Curiosidade: em meados do séc. XVI algumas cervejarias de Munique armazenavam nos Alpes, durante o inverno, suas cervejas em adegas frias e úmidas a fim de serem consumidas no verão. Tal processo era o lagerung, daí veio o termo LAGER. Esse processo, além de deixar a bebida mais límpida e agradável, provocou a seleção natural de leveduras adaptadas ao frio, que trabalhavam no fundo do fermentador, ou seja, favoreceu o cultivo das leveduras de baixa fermentação.
De Plzeň para o mundo
A fim de fabricar uma cerveja de qualidade e consistente, em 1839 o governo fundou a Mestansky Pivovar Plzeň (em Alemão: Bürger-Brauerei, em Português: Cervejaria do Povo, agora Pilsner Urquell) e contratou o mestre Josef Groll, pela sua experiência no uso dos maltes claros e na fermentação a frio.
Exatamente em 11 de novembro de 1842 ele apresentou uma nova bebida, clara, carbonatada, com sabor acentuado e refrescante, nascia a Pilsen ou Pilsner, cujo nome de batismo só foi dado anos depois e em homenagem à cidade de Plzeň, caindo imediatamente no gosto popular.
Como se não bastasse, a fabricação de vidros evoluíra e, assim, surgiam as taças transparentes. A agradável clareza em tons dourados da pilsen pôde ser vista plenamente, influenciando ainda mais sua divulgação.
Da Boêmia para o mundo foi uma questão de tempo. Impulsionada pelas inovações trazidas pela Revolução Industrial, como a melhoria nos sistemas de refrigeração e nos meios de transporte, a produção cervejeira saiu do patamar doméstico, saltou para o industrial, caiu no gosto do consumidor e ganhou o mundo.
Curiosidade: Josef Groll, inicialmente, preparou dois tipos de cerveja, uma výčepní (densidade entre 1.028-1.040) e uma lezak (densidade entre 1.044-1.048), dobrando a produção da menor delas. A výčepní é o tipo de cerveja mais consumido atualmente na República Checa.
Nessa primeira parte falei um pouco sobre a história dessa cerveja.
Aguardem o próximo capítulo, quando darei dicas para produzir a sua pilsen perfeita.
Referências
ZAINASHEF, Zamil; PALMER, John J. Brewing Classic Styles. Brewers Publications, 2007 DANIELS, Ray. Designing Great Beers. Brewers Publications, 2000 MORADO, Ronaldo. Larousse da Cerveja. Lafonte, 2009 MOSHER, Randy. Tasting Beer. Storey Publishing, 2017
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